14 janeiro 2008

Desvio


Dia 3. Terceira noite. É um dia de cada vez.

O desafio ao quotidiano, quase igual todo o ano.

Passo a passo, de pensamento em pensamento o afasto.

O quotidiano.

Do meridiano do insensato para o trópico da lucidez,

abandono esse campo de pasto.

É assim que me afasto,

e olhando para trás,

vou apagando o rasto,

que quero só seguir em frente,

ir de encontro á minha gente.

Não te percas...

Em dias idos de fogosa juventude, que lembram a destreza pouco amiude, de nostalgia hoje não passam. A saudade que hoje sinto, em verdade se minto, da serenidade da alma e do amor que me acalma. Do amor fugidio, que para mim à anos sorriu, permanece adormecido. Se o meu amor o viu nalgum lugar escondido, foi um acaso, num dia de céu despido. Mas a minha alma ainda não está calma. Não tenho andado a seu lado, não a tenho acompanhado. Meu corpo parece que anda sozinho e que já só conhece aquele caminho. Há quem se perca assim desta simples maneira e conformado, jamais será o mesmo. Deixar-se vencer e desistir de si mesmo. É a isto que estamos sujeitos que nos aconteça se nos formos deixando absorver pelo dia-a-dia, quotidiano da repetição e da sociedade. Mas tudo mudou, o tempo passou, e eu sou o espírito que não envelhece. Que olha para si mesmo, que de si não se esquece e até de si escarnece. As chamas que mordi, o gelo que incendiei. É por tudo o que em nós corre que se vive e que se morre.

26 março 2007

Na minha Sombra

Ás vezes, quando penso que tudo o que me resta são estes pequenos rasgos, este resto de sentimentos e emoções, penso que ainda não perdi tudo. Basta uma raiz, e se há uma raiz ainda há vida. É preciso cuidar dela para que volte a crescer a árvore, para que tenha o prazer de que alguém colha os seus frutos. Será a ausência maior que este sentimento? Será que é por isso que me vence? Que me quebra? Nestes ultimos dias tem-me quebrado. Por favor...
Eu... na minha consciência sei que quero é voltar a sentir as fortes ligações emocionais, voltar a sentir o amor dentro de mim, e que transbordava e me deixava sem medo. Facilmente honesto para com os outros e para comigo... Aquilo que fiz, o que tenho feito é enganar-me a mim e a quem me ama. A quem ainda me ama... Que eu sei, que eu sinto, sinto que lutam por ainda acreditar em mim, que ainda tenho o beneficio da dúvida. Há alguém que me olha com o espírito puro, isento, inocente e ingénuo, mas que sente que há algo... Porque eu noto que pára para pensar, preocupado - Que será que está a acontecer? E fica com medo, e guarda-o. E não o esquece...
E o carinho que me têm esbarra no meu egoismo, porque eu não tenho ido ao seu encontro, lutado, não tenho feito nada. Esbarra no meu vazio, porque do vazio nada se põe, nada se tira.
Escorrego de mim mesmo. Se não tiver cuidado, vou cair...

18 janeiro 2007

Quem manda?

Onde é que está?

05 dezembro 2006

Num Impasse




"Flagelação espiritual. Gostar do que não se quer.
Conscientemente fazendo o que não se quer fazer.
Desejando um doce, o que tiver mais calorias,
Ou o pior que se puder comer."

Bem, não sou diabético... mas ou sou fraco ou gosto de me provocar fortemente. Ou há qualquer coisa que me faz ter um comportamento que há muito não quero ter. Acho até que nunca o quis.
Creio que pretendo adormecer-me deste pesado pesadelo para acordar com a leveza da despreocupação. Até aqui tudo bem. Até existe aquela história daquele optimista que se atirou do 10º andar de cabeça e que ao passar o 3º andar exclamou: "Até aqui tudo bem"... Ando neste confronto há demasiado tempo. Há uns anos atrás consegui dar a volta por cima. Venci. Venci-me. Ao vencer-me fui derrotado. Derrotei-me. Perdi.

Eu sei que tenho uma força imensa. Tenho capacidades que me permitem ficar descansado, pois sei que se tiver que fazer algo, farei. Já o fiz . Já o voltei a fazer uma vez e outra.

O problema é ...é isso... não é não conseguir dizê-lo, é não ter com quem o fazer. E assim me vou embrulhando. Não fosse eu quem sou e já me tinha fundido comigo mesmo - e caía no abismo da desorientação espiritual. Perdia o norte de mim mesmo, ficava sem o meu outro lado, essa parte de mim que me sustenta, me conforta, me dá alento, que se confronta fortalecendo-me o ego.
E assim me vou acompanhando. Chegar até aqui não foi difícil, levou foi o seu tempo. No entanto, não era isto que eu queria. O nosso destino somos nós que o fazemos. Com uma pequena falta de cuidado, ou se desviarmos a atenção necessária para nós mesmos, isto pode acontecer a qualquer um!

20 outubro 2006

Uma pequena brecha

Rompeu-se.
O meu coração deu de si. Ficou com uma pequena abertura...
Eu já tinha sentido algo nos dias anteriores em diferentes situações e que me chamou a atenção de que algo estava a acontecer. É a vulnerabilidade que se aproxima de mim, sinto-a...
O meu coração abriu-se. É uma pequena brecha, mas meu deus, eu sei o que significa.

As ruas estão molhadas pelas chuvadas que se têm feito sentir no corpo, o vento sopra sem aviso com rajadas de provocar a ira de quem tem os mais fracos guarda-chuvas que se dobram e se partem, e as pessoas vergam-se perante o cinzento espírito do Inverno.
Saí para a rua varrida pelo mau tempo. Quando passei a porta, abri rapidamente o meu novo guarda-chuva que se dobrou imediatamente com a rajada de vento e grosso pingo que me deixou as calças quase completamente molhadas. Fui apressadamente para a paragem do autocarro para saber que já tinha passado.
Dirigi-me a outra paragem, esta sem cobertura, o que me permitiu molhar o resto da roupa.

Olhei á minha volta. As pessoas aparentam muito mais tristeza e melancolia nestes dias, que noutros. E queixam-se, e reclamam, muitas vezes também em silêncio pois suas expressões revelam um diálogo já há muito esquecido.

De súbito olhei para mim. Não foi só o espanto e a surpresa que senti; foi uma forte emoção que me abalou ao ver-me assim com um rasgo de orelha a orelha carimbado na minha cara. Eu estava maravilhado! Mas, porquê? Como é que eu podia saber? O que é que está a acontecer para eu me sentir assim? Como, se eu ainda há umas semanas atrás ao acordar de manhã, sentia que erguia os restos do que tenho sido, e ao chegar da noite, prostrado na cama, partilhava com a minha almofada lágimas de tristeza e revolta?

A emoção é mais forte e mais rápida do que o pensamento.
É com o coração que vemos claramente; o que é essencial é invisivel aos nossos olhos.
Só pode ser isso...

22 junho 2006

Não acredito numa palavra

Não fales comigo, não acredito numa palavra
Nem tentes fazer-me sentir bem
Que todo o amor em todo o mundo
Não é suficiente para me salvar a alma esta noite
Não sejas meu amigo, eu não sou parvo
Não fales de coisas que não conseguimos ver
Que me fazem pensar em como me usaram

Eu já vi o sorriso do demónio
E vi Deus voltar a cara para o lado
Eu já não tenho nada a perder
Já não tenho nada a dizer
Eu vi o céu ficar negro
Vi os mares a secar
Não tenho nada que seja teu
Não tenho nada agora que não seja meu

Não olhes para mim - os teus olhos são pedras de gelo
Nem penses por que é que me voltei para ti nesse momento
Todo o arrependimento em todo o mundo
Não é suficiente para que me faça dar-te conforto
Não me mintas mais, não sou nenhum cão
Não me fales de amor - sabes o que me parece
Todas as almas que manipulámos
Por vezes penso em como também nos usaram

Eu tenho visto o fogo do inferno
Vi os anjos com espadas de fogo
Não tenho nada que seja meu
Eu tenho muito que podia ser teu
Olhei nos olhos de Deus
Ouvi mentiras que eram verdade
Não tenho nada meu
Não tenho nada que te possa dar
Não acredito numa palavra

Tudo começa quando nada acaba

De inicio, nada havia.
Ainda tinha tudo.
O Tempo e a Vontade já se conheciam
Naquela altura.
Tinham a vaidade imaterial,
Dois portos de segurança.
O dia-a-dia era normal
E em tudo havia semelhança.
Desta realidade agora pouco se aceita
A tal ausência que não se sente.
E quando não há Tempo, a Vontade espreita.
Não há terra, não há àgua, mas há a semente...
É da falta que roubamos ânimo e esperança.

15 janeiro 2006

De surpresa

Encontrei-te.
Não queria acreditar que te estava a ver. Estavas mesmo a meu lado a falar com um nosso amigo, pois temos muitos em comum, sempre tivemos e vamos continuar a ter. Fico impressionado; nós não temos realmente o conhecimento total de nós mesmos - e sentimos por vezes que temos tudo sobre controlo - e de repente tudo muda... somos atingidos de dentro por nós próprios, sem tempo para surpresa... tentando dominar o choque.
Fico arrepiado. Uma onda de calor invade-me. Tento disfarçar, olhar para o lado numa tentativa de fazer de conta que não se passa nada quando já eu dei por tudo...
Tento agir o mais natural possível - pois dominar o que me vai na alma e no coração não é o mais importante para mim, mas sim partilhar e cultivar esses sentimento .
Não repudio nem evito estes imprevisiveis momentos - cada vez mais raros - que são como um banho de energia que me dão alento...

30 novembro 2005

É o Inverno...

Quis falar contigo.
Olháste-me com a expressão de que vou fazer algo que não gostas.
Mas eu precisava de te falar... de ouvir uma qualquer razão ou desculpa ou mesmo uma acusação, mas que ao menos falássemos sobre o assunto que me tem corroído a alma e a razão...
...E só preciso de o fazer porque o diálogo é uma manhã de primavera. O cheiro de todas aquelas plantas e o chilrear dos pássaros despertando-nos com prazer natural e simples... e olhar pra ti a meu lado, ver-te bocejar do sono profundo, espreguiçares-te e ouvir-te dizer "Bom dia amor...".
Mas não...
Então, comecei por te afagar a mão, passá-la no teu rosto e disse;
- Amor...precisamos de falar, preciso de falar contigo sobre...
Mudáste de assunto tão naturalmente que quase nem dei conta. Já não insisti.

Fiquei vazio de mim. De ti. E o silêncio subiu ao trono. O silêncio da intimidade apenas.
Uma intimidade só.

Aquela dor de te ver todos os dias, e não te ter, tinha desaparecido.
No dia seguinte, ao sair da nossa cama, o chão estava bastante frio. Abri as portadas da janela do nosso quarto, e olhei o dia. Um dia de Inverno, intenso como a chuva que caía, cinzento escuro. Acordás-te com a pouca luz que invadiu aquele espaço. Perguntás-te como estava o tempo. Respondi que estava um lindo dia de Inverno, típico da estação do ano. Mas que á tarde o sol iria aparecer, de certeza...

29 novembro 2005

Aquela tristeza

Só depois de todo este tempo, dei pela ausência daquele sentimento. O da tristeza.
A tristeza do desencanto, do carinho e do amor em falta.
Andava perturbado sem conseguir perceber se me sentia bem ou mal com a consciência de que algo teria acontecido assim. Fez-me pensar se o inevitável existe apenas porque se quis dar uma definição a algo que sabemos que vai acontecer mas que não fazemos nada para o evitar. É inevitável e pronto, não há mesmo nada a fazer. Isto pode não ser complicado...
A verdade é que existe esta ausência daquele sentimento... e um sentimento de ausência. Sei aquilo que não sinto! É como se me estivesse a esvair por dentro num caos interior, e ao mesmo tempo a criar um espaço novo que alivia a dor...não sei como explicar..., talvez como se soubessemos o que é algo que não conhecemos...
Só sei que já não sinto aquela tristeza e que não me sinto bem com isso.

Evolução

Deus criou a terra. Depois criou os animais. Finalmente criou o Homem.
O homem destrói os animais. O homem constrói a máquina. O homem mata Deus.
O homem mata o Homem.
A mulher herda o planeta...

30 agosto 2005

Tudo menos

Estas férias de verão estão a acabar.

Estás deitada, dormindo em cima desses sonhos que teimas em largar,
conduzindo-os onde só tu os podes levar.

Por isso dormes mais um pouco; gostas dessa liberdade de pensamento onde fazes o que queres, conduzindo-te sem regras pelo teu sonho. São assim os sonhos. Livres.
Por isso não entendo que acordes tantas vezes assim, com esse mau ar, aborrecida, chateada. Não foi só um sonho? Ou foi a realidade, que ao abrires o olhos te dominou?
É que estou a ficar distante. Sinto uma distância ligeiramente maior a cada dia que passa. Por vezes ainda sinto aquele amor... e volto a 1996! Penso que se não damos a devida atenção ao que nos está a acontecer, é porque sabemos bem o que nos está a acontecer. Então para quê a preocupação? Nem há a necessidade de diálogo! Agora já não é preciso... Talvez a razão esteja contigo quando deixas-te de ter conversas íntimas comigo, que já eram muito raras, embora nunca venha a saber que razão é essa. Já não estou interessado.

O nosso filho é um grande amor, fruto do nosso. Também o adoro, amo-o. Tem lugar fixo no meu coração, mas não ocupou o teu lugar. Sabes bem que o meu egoismo não chega aí. Lembro-me do parto como se fosse hoje.
Lembro-me daquela bruta enfermeira que te magoava, em que pedi ao médico para eu a substituir, ao que ele acedeu prontamente, o que me permitiu não só acompanhar o nascimento do nosso filho, como ajudá-lo a nascer. Das anedotas que contei nos intervalos das contracções, dos médicos que iam aparecendo, atraídos pelas gargalhadas. E quando cortei o cordão umbilical, peguei nele e o coloquei nos teu braços... lembras-te do que te disse?

A nossa "viagem" a dois tem tido alguns percalços, mas sempre te chamei a atenção naquelas alturas em que a água entrava neste nosso barco, quando não estavas a olhar. Sabes bem que sou uma pessoa activa e atenta. Nunca tivemos que nos preocupar com intromissões externas á nossa sólida relação. Era já um espaço preenchido.... por ti.

Mas a ausência de carinho,
de afecto,
deixou-me triste, sozinho
Numa casa sem tecto.


Gosto de ti, ainda quero estar contigo, mas há esta massa enorme de fumo espesso no ar, que me sufoca e tolda a visão e se liberta desta fogueira mal apagada, a da nossa paixão...

Não acredito no silêncio. Não aprovo que não fales comigo dos nossos sentimentos, bons e maus. Tenho uma saudade enorme de me entregar ao amor, ao sentimento, a ti.... Sabes, existe uma pequena fronteira entre a saudade e a recordação....

Amo-te, isso eu sei.
Mas o meu amor é grande e ainda tenho muito para dar... a quem o souber receber.

27 junho 2005

O eco

Mas, onde está a felicidade?...
Onde se encontra esse bem
Que em vão procuro?...
Estará na terra?
No mar?
Estará ò serra, aí?

- Aqui...

Ah! Afinal encontro,
E sou feliz.
Mas onde estás
Que te não vejo,
Já não te ouço!...
Vem, que eu desejo
Amar-te e oferecer-te
A minha vida.

- Q'rida...

Ah! Já me amas?
Mas ainda não te vi.
Nem senti a tua presença,
Teu calor,
Nem adormeci ainda
Sob teu amor,
Na terra ressequida.

- Vida...

Ah! Essa infiel
Que me atraiçoou.
Essa vida mesquinha
E inquieta,Que fez de mim
O que hoje sou
E que me arrastou
Por sobre a terra,
Além dos mares,
Me rasgou a alma
E a encheu de fel
Até ao âmago do meu coração......
essa vida que eu temo
E não entendo...

- Compreendo...

Compreendes?
Até que enfim
Encontro o que procurava.
Alguém
Que me quer.
Que pensa como eu
E como eu, buscava
A paz e o amor...
Mas, onde estás?...
Quem és?
Não vêz que me perco?!

- Eco...

20 junho 2005

Do outro lado do céu (II)

Afinal,
A minha estrela
Encontrou a tua,
Do outro lado do céu.
Quedou-se estática,
Tremeu.
E tornou-se difusa
A sua luz.
Todas as outras se apagaram,
Só a tua ficou.
A lua afastou-se,
Terna e compreensiva
E tudo no espaço mudou.
A minha estrela tremeu;
A tua brilhou, brilhou
E...
Desapareceu.

19 junho 2005

Do outro lado do céu

Ouviste o rouxinol,
Além, daquele lado
Onde a fonte canta?
Não ouves o rastejar
Das folhas pelo chão,
Num rumor que encanta?
E, vês aquela estrela?
Aquela que mais brilha,
Envolta em ténue véu?
É a minha.
A tua está longe, muito longe,
Do outro lado do céu.
Ouves a natureza?
E o vento que murmura
Canções dolentes para a adormecer,
Até que do lado do oriente
O sol torne a nascer?!
Ouves o regato correndo sem parar?
Vê que bela noite e que belo o luar.
Um grilo canta ao longe.
Uma estrela correu no céu azul.
Não viste?Olha!
Foi a minha que partiu correndo
E se perdeu,
Procurando a tua,
do outro lado do céu.

15 junho 2005

Advertência!


Venho por este meio apresentar a minha advertência referente ao perigo que existe em nos cruzarmos com pessoas com “morte cerebral deambulante”:

“É a minha filha. Tem 12 anos.
Nunca foi a um funeral e então pediu-me para a levar a um.
Viemos a este...
Eu já lhe disse que não teêm nada de interessante mas ela quis vir à mesma...
Não percebo esta miúda... tem dias em que me aparece com cada conversa que até fico parva; como é que é possível? Deve ser das pessoas com que ela se dá... e isso já fica um pouco fora do meu controlo.
É verdade – então e como é que vão vocês? Já não vos via desde a morte da tua mãe... está tudo bem? ...Nós vamos indo...olha, a vida não anda para trás...!
Olha lá ali... não é o teu irmão? Nem fez a barba... que desmanzelo, meu deus... Já está a trabalhar? Não?!? Ai, se eu fosse a mulher dele não consentia...
Bolas! Tenho que telefonar ao meu marido para ir comprar as flores que eu não tenho tempo! Há quanto tempo é que aqui estamos? Hora e meia? Aquele homem é demais: sabe que eu estou aqui com a nossa filha neste sofrimento e nem se digna sequer a telefonar nem nada! E ele sabe como é que eu fico afectada com estes momentos de família em luto. É um transtorno para mim...
Bom... vamos filha, vamos para a capela...
Veêm?
Vamos.
Então diz-me lá... Como é que morreu a senhora? Que idade é que ela tinha?
Hum... aaah.... a sério?
Tua tia??
Tchhh.............”

14 junho 2005

Não é amor…

Não é amor o que sinto por ti.
Não é amor o sentimento
Que me faz querer-te
Ao pé de mim.
Não é amor esta angústia
Que sinto,
Quando te não vejo;
A dor que me alanceia
Quando o meu olhar,
Pára no teu, indiferente.
Não é amor o sentir-me
O mais feliz entre os felizes,
Quando sorris para mim
Ternamente.
Não é amor o que me faz
Odiar as gentes
Que te rodeiam
E querer-te só para mim.
Não é amor o que me faz
Chorar por ti.
Não é amor o sonho em que vivo,
Num misto de dor e ternura…
É mais que amor,
É loucura.

12 junho 2005

Conhecer a liberdade


O conhecimento daquilo que é desejado, e adquirido das formas mais diversas, sendo elas capazes de nos abalar, no bom ou mau sentido, é sempre bem vindo, mesmo que vergonha sintamos, seja pelos meios em que as ficámos a conhecer ou desse conhecimento realmente, agora dignamente conhecido e não aceite, seja aceite simplesmente. Vão sempre em frente. Lembrem-se que o medo de ser livre provoca nos homens o orgulho de ser escravo.

Que sabes tu?


Sabes acaso o que é esta
Confusão enorme
De querer e não querer?
Poderás dizer-me
Se no caleidoscópio da vida
Haverá a côr que desejo ter?
Saberás dizer se és tu
Quem procuro,
Perdida na distância
Que nos une
E nos aparta
Para logo nos juntar?
Que ora nos faz entender
E logo desesperar?
Mas que sabes tu de ti ou de mim
Para me poderes dizer,
Se acaso é amor ou não
O que me faz sofrer.Que sabes tu?
Sim. Que sabes tu?!
Se eu próprio não sei.

10 junho 2005

Perseguição


Fechei a porta da minha casa suavemente e tranquei-a silenciosamente, como se tivesse antecipadamente maquinado o meu desaparecimento, e agora... tenho a impressão de que sou a única testemunha da minha própria ausência...

O poeta e a dor

O Poeta é um fingidor
E finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente

F.P.

Esse amor...

Do not ask of me, my love
That love I once had for you…
How lovely you are still, my love
But I am helpless too…
For the world have other sorrows than love
And other pleasures too.
Do not ask of me, my love
That love I once had for you…

“Rekha Merchant”

O que já foi, jamais voltará a sê-lo.
Adeus triste realidade.
Olá alegres recordações.

O que sou

Sei e não sei,
Quero e não quero.
Não sei quem sou,
nem sei que espero.
Sofro e não sofro,
Vejo e não vejo,
E nada quero
Tudo desejo.
Estou e não estou
Amo e não amo
Eis o que sou.

08 junho 2005

Triclinium


Esta ilustração é no original em carvão, tendo sido posteriormente submetida a tratamento gráfico, após digitalização, com o Adobe Illustrator.
Tive a intenção de o desenhar desproporcionalmente, dando relevo à expressão do pensamento.


1998

A todos...

A poesia

Gosto de escrever de vez em quando, quando o estado de espirito me atira para o meu pequeno bloco de apontamentos a que dei o nome de "Livro de reclamações". É lá que escrevo a maior parte das minhas explosões sentimentais. Ou críticas. Ou ironias. Por vezes é um mesclado disso tudo, mas nunca fantasista.

Nunca me tinha interessado por blogs. Tive sempre a opinião (sem conhecimento) de que os blogs são mais uma página de opinião daqueles que gostam de dizer exactamente seja o que for e de qualquer maneira.

É que existe mesmo um grupo enorme de pessoas que comunicam verdadeiras mensagens com verdadeiro conteúdo. Não é só conversa demagógica, ou sem objectivo... É mesmo um expressar em conjunto, em uníssono, atrevo-me a dizer... de um certo número de pessoas com o mesmo intuito. O de expressar algo que para si é mesmo importante, tão importante como a vontade de o comunicar aos outros que sabe que o vão lêr e comentar. E é deveras cativante...

Descobri a "Blogosfera" através de perfis de contribuintes num site de que também faço parte. Fui dar com o blog de Mara, e através deste, encontrei um link que me tem tocado ; o de Vera Cymbron. A poesia é algo de sublime para mim.
Foi motivação suficiente para criar o meu com todo o entusiasmo.

Se gostam de poesia, este é mais um lugar de leitura. Espero que gostem.

07 junho 2005

Não quero.

Bastava-me estender o braço
Para acariciar o teu cabelo negro,
E não quero.
Bastava-me erguer os olhos
Para fitar o teu olhar
Magoado,
E não quero.
Bastava-me distender os dedos
Para tocar a tua mão
Que junto à minha pões,
E não quero.

Não quero porque sei
Que fugirias.
Porque sei que o teu olhar ,
Do meu afastarias.
Porque sei que a tua mão
Fugiria à minha.
Porque tenho medo que seja certo,
Estares longe, bem longe
Apesar de estares perto.

A Imperadora



Quando eu nasci
a vida encolheu os ombros.
Depois, virou-se para o outro lado
E continuou bafejando novos seres.
Fiquei só.
A vida esqueceu-me.
Não me apontou o alvo a atingir.
E eu vou andando,
Andando sempre,
Sem rumo
Sem saber para onde ir
Imerso em fumo.

A vida lançou-me
No turbilhão do mundo
E eu fiquei só.
Que faço eu aqui?
Porque aqui estou?
Para quê?

Nada mais posso fazer
Do que esperar,
Até que ela de novo
Para mim olhe
E estendendo a mão
para baixo vire
o polegar.

Agora é tarde

Tarde demais,
no vazio do meu peito
a luz entrou.
Era tudo névoa
e tornou-se límpido o espaço.
Era tudo silêncio
e a voz humana o fecundou.
Era tudo angústia e incerteza
e a certeza veio...mas a angústia ficou.
Havia pensamentos dispersos
e agora não.
Agora há certeza,
há luz.
Mas...eu sei que perdi...
e, agora que te encontrei
fiquei sem ti.

Contar até dez

Um raio de luar brilhando, brilhando.
Dois raios de esperança surgindo, surgindo.
Três vezes passando nos olhos abertos,
Quatro olhos abertos de espanto, fugindo.
Cinco vezes chorando e
Seis vezes rindo.
Sete lágrimas rolando, caindo pelas faces,
Oito faces pálidas de medo e de espanto.
Nove horas contadas por todos que esperam,
Dez mil anos de sonho, de luz e de encanto.

06 junho 2005

Ò Mulher...

Olha p'ra mim.
Tenta ver-me,
nos meus olhos.

Vais ver o meu reflexo a aparecer nos teus.

Fala comigo.
Escuta os meus sentimentos,
ouve quem sou.

Assim, perceberás sempre o que digo.

Toca-me, afaga-me o peito.
Apazigua-me a alma,
liberta tormentos.

De todos os momentos da nossa vida, no nosso leito.

Cheira...
O odor da minha pele,
o calor que exalo.

Nos teus pulmões, nas tuas veias, no teu halo.

Saboreia o meu sentir.
Deixa-o fluir,
por entre os abraços dos nossos sentidos.

Quando nos estamos a amar.

De Carnaval mascarado

Sim, aqui estou eu
De palhaço mascarado, sem sorriso
Coração desfigurado.

É lenta a dor, leve o turpor
Imenso é o nada que tenho
vindo a animar.

Se aqui estivesse nú
na côr da minha pele
mais triste seria a imagem.

Mais transparente seria
O sentimento que surge
A sangrar.

Assim, aqui estou eu
De palhaço mascarado,
neste Carnaval imundo
De traje ultrajado
Num penúltimo dia
Que vai já acabar.

Quem é?

Chamamentos deslumbrantes.
...Uma atracção...
Grande poder.
Mas faz-me bem, apesar de tudo.
Mesmo que tape os ouvidos, e feche os olhos,
Estão lá!
Em qualquer lado
onde quer que esteja eu.
Quer desligue o interruptor, quer desenrosque a lâmpada,
A energia permanece e sente-se-lhe a
Vibração.
E que bem que sabe.
Estarei escondido? Há quanto tempo?
É que assim nem eu encontro o que quer que seja.
Tenho que me concentrar para ver o que me acontece.
Porque isto irrita-me!...

O meu pensamento

Está escrito no vento
o meu pensamento.
Perdeu-se no espaço
num lamento de incerteza
por entre os castelos
de nuvens cinzentas
buscando beleza.
Deixou-se embalar
na canção do vento
o meu pensamento.
E agora soluça
por entre a neblina
esfuma-se lento
na noite menina.
Correndo partiu
levado pelo vento
o meu pensamento.
Não sei onde está.
Não sei se ainda existe.
Se a tempestade enciúmada
o matou,
se o mar revolto
o tragou.
Se sucumbiu a rude ameaça.
Só sei que seguiu no vento
que passa.
Partiu com o vento
o meu pensamento.
Perdido no longe
no zero infinito,
não mais voltará.
O meu pensamento
perdeu-se no espaço
levado pelo vento.

Eu...?

És como a figura desbotada
de um quadro velho
pregado na parede,
sem côr, já esbatido.
Vislumbra-se apenas
a forma esmagada
daquilo que foste.
Sorriso apagado
Do tempo vivido.
És recordação presente
da vida passada
esbatida e sem côr
do quadro já velho.
És sombra e mais nada.

O Silêncio

O Silêncio apavora,
amarfanha a alma.
Alma não.

Já não existe.
É tudo silêncio,
solidão sem calma.

O tempo que passou levou a alma,
espalhou-a pelo infinito,
mergulhou-a no mar profundo
e desfez o mito.

O Silêncio amachuca,
fere, rasga e destroça
e ecoa como um grito.

Ri

Rir...
Rir às gargalhadas.
Comprime no peito
A tua agonia,
Não deixes ouvir o teu soluçar...
Continua a rir!
Mesmo que em teus olhos
Apareçam lágrimas,
Mesmo que o teu peito
Rebente de dor,
Mesmo que solucem
As pedras nas estradas...
Continua a rir...
Rir...
Sempre rir...
Rir às gargalhadas.

05 junho 2005

Afasta-te

Afasta-te
Deixa-te de ideias préconcebidas
e desiste.
Não penses no que será ou não será
Não sonhes com o amanhã
que não existe,
nem penses sequer em querer
o que não tens,
porque não há.
A felicidade há nos outros,
Em todos os outros
E em nenhum de nós.
Tudo o que é mundano é frivolo e fútil
Todo nosso corpo é filtro
Por onde a vida se côa,
Deixando no fundo a podridão
Da matéria sempre inútil.
Deixa de olhar para dentro de ti
Buscando a alma que não tens.
Deixa vaguear o olhar cansado e vago
Por tudo o que partiu,
Como se os olhos fossem apenas bolas de vidro
Molhados pela chuva que ontem caiu.
Nem penses vogar no mar irrequieto do teu
Pensamento, nem tentes pensar.
Se não sabes viver, afasta-te
E deixa os outros passar.
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