27 junho 2005

O eco

Mas, onde está a felicidade?...
Onde se encontra esse bem
Que em vão procuro?...
Estará na terra?
No mar?
Estará ò serra, aí?

- Aqui...

Ah! Afinal encontro,
E sou feliz.
Mas onde estás
Que te não vejo,
Já não te ouço!...
Vem, que eu desejo
Amar-te e oferecer-te
A minha vida.

- Q'rida...

Ah! Já me amas?
Mas ainda não te vi.
Nem senti a tua presença,
Teu calor,
Nem adormeci ainda
Sob teu amor,
Na terra ressequida.

- Vida...

Ah! Essa infiel
Que me atraiçoou.
Essa vida mesquinha
E inquieta,Que fez de mim
O que hoje sou
E que me arrastou
Por sobre a terra,
Além dos mares,
Me rasgou a alma
E a encheu de fel
Até ao âmago do meu coração......
essa vida que eu temo
E não entendo...

- Compreendo...

Compreendes?
Até que enfim
Encontro o que procurava.
Alguém
Que me quer.
Que pensa como eu
E como eu, buscava
A paz e o amor...
Mas, onde estás?...
Quem és?
Não vêz que me perco?!

- Eco...

20 junho 2005

Do outro lado do céu (II)

Afinal,
A minha estrela
Encontrou a tua,
Do outro lado do céu.
Quedou-se estática,
Tremeu.
E tornou-se difusa
A sua luz.
Todas as outras se apagaram,
Só a tua ficou.
A lua afastou-se,
Terna e compreensiva
E tudo no espaço mudou.
A minha estrela tremeu;
A tua brilhou, brilhou
E...
Desapareceu.

19 junho 2005

Do outro lado do céu

Ouviste o rouxinol,
Além, daquele lado
Onde a fonte canta?
Não ouves o rastejar
Das folhas pelo chão,
Num rumor que encanta?
E, vês aquela estrela?
Aquela que mais brilha,
Envolta em ténue véu?
É a minha.
A tua está longe, muito longe,
Do outro lado do céu.
Ouves a natureza?
E o vento que murmura
Canções dolentes para a adormecer,
Até que do lado do oriente
O sol torne a nascer?!
Ouves o regato correndo sem parar?
Vê que bela noite e que belo o luar.
Um grilo canta ao longe.
Uma estrela correu no céu azul.
Não viste?Olha!
Foi a minha que partiu correndo
E se perdeu,
Procurando a tua,
do outro lado do céu.

15 junho 2005

Advertência!


Venho por este meio apresentar a minha advertência referente ao perigo que existe em nos cruzarmos com pessoas com “morte cerebral deambulante”:

“É a minha filha. Tem 12 anos.
Nunca foi a um funeral e então pediu-me para a levar a um.
Viemos a este...
Eu já lhe disse que não teêm nada de interessante mas ela quis vir à mesma...
Não percebo esta miúda... tem dias em que me aparece com cada conversa que até fico parva; como é que é possível? Deve ser das pessoas com que ela se dá... e isso já fica um pouco fora do meu controlo.
É verdade – então e como é que vão vocês? Já não vos via desde a morte da tua mãe... está tudo bem? ...Nós vamos indo...olha, a vida não anda para trás...!
Olha lá ali... não é o teu irmão? Nem fez a barba... que desmanzelo, meu deus... Já está a trabalhar? Não?!? Ai, se eu fosse a mulher dele não consentia...
Bolas! Tenho que telefonar ao meu marido para ir comprar as flores que eu não tenho tempo! Há quanto tempo é que aqui estamos? Hora e meia? Aquele homem é demais: sabe que eu estou aqui com a nossa filha neste sofrimento e nem se digna sequer a telefonar nem nada! E ele sabe como é que eu fico afectada com estes momentos de família em luto. É um transtorno para mim...
Bom... vamos filha, vamos para a capela...
Veêm?
Vamos.
Então diz-me lá... Como é que morreu a senhora? Que idade é que ela tinha?
Hum... aaah.... a sério?
Tua tia??
Tchhh.............”

14 junho 2005

Não é amor…

Não é amor o que sinto por ti.
Não é amor o sentimento
Que me faz querer-te
Ao pé de mim.
Não é amor esta angústia
Que sinto,
Quando te não vejo;
A dor que me alanceia
Quando o meu olhar,
Pára no teu, indiferente.
Não é amor o sentir-me
O mais feliz entre os felizes,
Quando sorris para mim
Ternamente.
Não é amor o que me faz
Odiar as gentes
Que te rodeiam
E querer-te só para mim.
Não é amor o que me faz
Chorar por ti.
Não é amor o sonho em que vivo,
Num misto de dor e ternura…
É mais que amor,
É loucura.

12 junho 2005

Conhecer a liberdade


O conhecimento daquilo que é desejado, e adquirido das formas mais diversas, sendo elas capazes de nos abalar, no bom ou mau sentido, é sempre bem vindo, mesmo que vergonha sintamos, seja pelos meios em que as ficámos a conhecer ou desse conhecimento realmente, agora dignamente conhecido e não aceite, seja aceite simplesmente. Vão sempre em frente. Lembrem-se que o medo de ser livre provoca nos homens o orgulho de ser escravo.

Que sabes tu?


Sabes acaso o que é esta
Confusão enorme
De querer e não querer?
Poderás dizer-me
Se no caleidoscópio da vida
Haverá a côr que desejo ter?
Saberás dizer se és tu
Quem procuro,
Perdida na distância
Que nos une
E nos aparta
Para logo nos juntar?
Que ora nos faz entender
E logo desesperar?
Mas que sabes tu de ti ou de mim
Para me poderes dizer,
Se acaso é amor ou não
O que me faz sofrer.Que sabes tu?
Sim. Que sabes tu?!
Se eu próprio não sei.

10 junho 2005

Perseguição


Fechei a porta da minha casa suavemente e tranquei-a silenciosamente, como se tivesse antecipadamente maquinado o meu desaparecimento, e agora... tenho a impressão de que sou a única testemunha da minha própria ausência...

O poeta e a dor

O Poeta é um fingidor
E finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente

F.P.

Esse amor...

Do not ask of me, my love
That love I once had for you…
How lovely you are still, my love
But I am helpless too…
For the world have other sorrows than love
And other pleasures too.
Do not ask of me, my love
That love I once had for you…

“Rekha Merchant”

O que já foi, jamais voltará a sê-lo.
Adeus triste realidade.
Olá alegres recordações.

O que sou

Sei e não sei,
Quero e não quero.
Não sei quem sou,
nem sei que espero.
Sofro e não sofro,
Vejo e não vejo,
E nada quero
Tudo desejo.
Estou e não estou
Amo e não amo
Eis o que sou.

08 junho 2005

Triclinium


Esta ilustração é no original em carvão, tendo sido posteriormente submetida a tratamento gráfico, após digitalização, com o Adobe Illustrator.
Tive a intenção de o desenhar desproporcionalmente, dando relevo à expressão do pensamento.


1998

A todos...

A poesia

Gosto de escrever de vez em quando, quando o estado de espirito me atira para o meu pequeno bloco de apontamentos a que dei o nome de "Livro de reclamações". É lá que escrevo a maior parte das minhas explosões sentimentais. Ou críticas. Ou ironias. Por vezes é um mesclado disso tudo, mas nunca fantasista.

Nunca me tinha interessado por blogs. Tive sempre a opinião (sem conhecimento) de que os blogs são mais uma página de opinião daqueles que gostam de dizer exactamente seja o que for e de qualquer maneira.

É que existe mesmo um grupo enorme de pessoas que comunicam verdadeiras mensagens com verdadeiro conteúdo. Não é só conversa demagógica, ou sem objectivo... É mesmo um expressar em conjunto, em uníssono, atrevo-me a dizer... de um certo número de pessoas com o mesmo intuito. O de expressar algo que para si é mesmo importante, tão importante como a vontade de o comunicar aos outros que sabe que o vão lêr e comentar. E é deveras cativante...

Descobri a "Blogosfera" através de perfis de contribuintes num site de que também faço parte. Fui dar com o blog de Mara, e através deste, encontrei um link que me tem tocado ; o de Vera Cymbron. A poesia é algo de sublime para mim.
Foi motivação suficiente para criar o meu com todo o entusiasmo.

Se gostam de poesia, este é mais um lugar de leitura. Espero que gostem.

07 junho 2005

Não quero.

Bastava-me estender o braço
Para acariciar o teu cabelo negro,
E não quero.
Bastava-me erguer os olhos
Para fitar o teu olhar
Magoado,
E não quero.
Bastava-me distender os dedos
Para tocar a tua mão
Que junto à minha pões,
E não quero.

Não quero porque sei
Que fugirias.
Porque sei que o teu olhar ,
Do meu afastarias.
Porque sei que a tua mão
Fugiria à minha.
Porque tenho medo que seja certo,
Estares longe, bem longe
Apesar de estares perto.

A Imperadora



Quando eu nasci
a vida encolheu os ombros.
Depois, virou-se para o outro lado
E continuou bafejando novos seres.
Fiquei só.
A vida esqueceu-me.
Não me apontou o alvo a atingir.
E eu vou andando,
Andando sempre,
Sem rumo
Sem saber para onde ir
Imerso em fumo.

A vida lançou-me
No turbilhão do mundo
E eu fiquei só.
Que faço eu aqui?
Porque aqui estou?
Para quê?

Nada mais posso fazer
Do que esperar,
Até que ela de novo
Para mim olhe
E estendendo a mão
para baixo vire
o polegar.

Agora é tarde

Tarde demais,
no vazio do meu peito
a luz entrou.
Era tudo névoa
e tornou-se límpido o espaço.
Era tudo silêncio
e a voz humana o fecundou.
Era tudo angústia e incerteza
e a certeza veio...mas a angústia ficou.
Havia pensamentos dispersos
e agora não.
Agora há certeza,
há luz.
Mas...eu sei que perdi...
e, agora que te encontrei
fiquei sem ti.

Contar até dez

Um raio de luar brilhando, brilhando.
Dois raios de esperança surgindo, surgindo.
Três vezes passando nos olhos abertos,
Quatro olhos abertos de espanto, fugindo.
Cinco vezes chorando e
Seis vezes rindo.
Sete lágrimas rolando, caindo pelas faces,
Oito faces pálidas de medo e de espanto.
Nove horas contadas por todos que esperam,
Dez mil anos de sonho, de luz e de encanto.

06 junho 2005

Ò Mulher...

Olha p'ra mim.
Tenta ver-me,
nos meus olhos.

Vais ver o meu reflexo a aparecer nos teus.

Fala comigo.
Escuta os meus sentimentos,
ouve quem sou.

Assim, perceberás sempre o que digo.

Toca-me, afaga-me o peito.
Apazigua-me a alma,
liberta tormentos.

De todos os momentos da nossa vida, no nosso leito.

Cheira...
O odor da minha pele,
o calor que exalo.

Nos teus pulmões, nas tuas veias, no teu halo.

Saboreia o meu sentir.
Deixa-o fluir,
por entre os abraços dos nossos sentidos.

Quando nos estamos a amar.

De Carnaval mascarado

Sim, aqui estou eu
De palhaço mascarado, sem sorriso
Coração desfigurado.

É lenta a dor, leve o turpor
Imenso é o nada que tenho
vindo a animar.

Se aqui estivesse nú
na côr da minha pele
mais triste seria a imagem.

Mais transparente seria
O sentimento que surge
A sangrar.

Assim, aqui estou eu
De palhaço mascarado,
neste Carnaval imundo
De traje ultrajado
Num penúltimo dia
Que vai já acabar.

Quem é?

Chamamentos deslumbrantes.
...Uma atracção...
Grande poder.
Mas faz-me bem, apesar de tudo.
Mesmo que tape os ouvidos, e feche os olhos,
Estão lá!
Em qualquer lado
onde quer que esteja eu.
Quer desligue o interruptor, quer desenrosque a lâmpada,
A energia permanece e sente-se-lhe a
Vibração.
E que bem que sabe.
Estarei escondido? Há quanto tempo?
É que assim nem eu encontro o que quer que seja.
Tenho que me concentrar para ver o que me acontece.
Porque isto irrita-me!...

O meu pensamento

Está escrito no vento
o meu pensamento.
Perdeu-se no espaço
num lamento de incerteza
por entre os castelos
de nuvens cinzentas
buscando beleza.
Deixou-se embalar
na canção do vento
o meu pensamento.
E agora soluça
por entre a neblina
esfuma-se lento
na noite menina.
Correndo partiu
levado pelo vento
o meu pensamento.
Não sei onde está.
Não sei se ainda existe.
Se a tempestade enciúmada
o matou,
se o mar revolto
o tragou.
Se sucumbiu a rude ameaça.
Só sei que seguiu no vento
que passa.
Partiu com o vento
o meu pensamento.
Perdido no longe
no zero infinito,
não mais voltará.
O meu pensamento
perdeu-se no espaço
levado pelo vento.

Eu...?

És como a figura desbotada
de um quadro velho
pregado na parede,
sem côr, já esbatido.
Vislumbra-se apenas
a forma esmagada
daquilo que foste.
Sorriso apagado
Do tempo vivido.
És recordação presente
da vida passada
esbatida e sem côr
do quadro já velho.
És sombra e mais nada.

O Silêncio

O Silêncio apavora,
amarfanha a alma.
Alma não.

Já não existe.
É tudo silêncio,
solidão sem calma.

O tempo que passou levou a alma,
espalhou-a pelo infinito,
mergulhou-a no mar profundo
e desfez o mito.

O Silêncio amachuca,
fere, rasga e destroça
e ecoa como um grito.

Ri

Rir...
Rir às gargalhadas.
Comprime no peito
A tua agonia,
Não deixes ouvir o teu soluçar...
Continua a rir!
Mesmo que em teus olhos
Apareçam lágrimas,
Mesmo que o teu peito
Rebente de dor,
Mesmo que solucem
As pedras nas estradas...
Continua a rir...
Rir...
Sempre rir...
Rir às gargalhadas.

05 junho 2005

Afasta-te

Afasta-te
Deixa-te de ideias préconcebidas
e desiste.
Não penses no que será ou não será
Não sonhes com o amanhã
que não existe,
nem penses sequer em querer
o que não tens,
porque não há.
A felicidade há nos outros,
Em todos os outros
E em nenhum de nós.
Tudo o que é mundano é frivolo e fútil
Todo nosso corpo é filtro
Por onde a vida se côa,
Deixando no fundo a podridão
Da matéria sempre inútil.
Deixa de olhar para dentro de ti
Buscando a alma que não tens.
Deixa vaguear o olhar cansado e vago
Por tudo o que partiu,
Como se os olhos fossem apenas bolas de vidro
Molhados pela chuva que ontem caiu.
Nem penses vogar no mar irrequieto do teu
Pensamento, nem tentes pensar.
Se não sabes viver, afasta-te
E deixa os outros passar.
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